4.12.07

On the turning away

Vim para aqui em cima das nuvens (antes sequer de entrar no avião), volto cabisbaixo e desolado. Ao fim de duas semanas claro que já sou novaiorquino, claro que já me habituei a esta rotina deliciosa de ver o mundo por uma janela em forma de 1/4 de circunferência, de esgravatar Manhattan diariamente, de gelar o focinho e esperar que ao menos neve para ter mais piada do que só o frio, de atravessar ruas no meio de um rebanho e colocar-me sempre mais ou menos a meio para precaver alguma colhida colectiva por parte de algum taxista mais destravado, de contar quantas vezes pisca a luz intermitente para travessia de peões antes de ficar fixa no vermelho e a grelha de partida perpendicular arrancar freneticamente (12), Broadway e 5th Avenue e Times Square e Columbus Circle (ou Marquês de Pombal cá da terra) e Dakota Building fuck-Fátima-this-is my-holy-place e cerimónia oficial de fim da tarde no Colisseum com malta da CNN + tapas + jukebox e Greenwich Village jeans & records & beatnik haunts with live poetry or music e de repente sem saber como nem porquê fui metido no palco com uma guitarra e do lado de fora da janela volta a nevar and the Staten Island Ferry also wailed e há fotos disso logo no primeiro dia. Foi ontem. Foi há quase duas semanas. Muito tempo, mais que suficiente para perder o que quis ganhar ao vir para cá. Mudou tudo, até eu sinto que mudei e não é propriamente normal em mim. E não é só a promessa de nunca mais me esquecer de jogar no Euromilhões. Se calhar encontrei aqui mais do que estava à espera, se calhar escondi-me atrás do frio, se calhar isso era tudo o que eu precisava. Amanhã logo se vê o que (não) me espera: Benson&Hedges Gold, o meu carro, os meus CDs aos quais vou juntar uns 20 ou 25, as guitarras eléctricas (que a acústica é a melhor amiga do viajante)...but there won't be no more you and me, pressinto...

Sem comentários: