28.9.08

Resposta hedonista ao post anterior *

Tenho uma vida óptima, não acredito no amor. Quer dizer, eu acredito no amor. Aquele que as mulheres sentem por mim. Não sou amigo de nenhuma, amigo é quem atura TPM. Eu não aturo TPM, ela tem amigos de óculos para isso.
Chegar aos 26 sem namorada não só é natural, como é um estilo de vida. A culpa, claro, não é delas. Se dependesse delas eu já estaria gordo, com uma cerveja na barriga, a atuar remungos, tendo de assistir telenovelas para encontrar assunto.
Eu não sou dos rapazes mais lindos, mas isso pouco importa. Dinheiro também não importa, mal tenho para a passagem do autocarro. Mas tenho atitude, e é isso que elas tanto procuram. E nunca se compra representes às raparigas, sem ter recebido um maior e mais caro antes.
Se aparecer com cabelo branco, está tudo terminado.
O tempo cura todas as feridas. E não ganhas nada de raparigas.

* exercício de estilo puramente ficcional

26.9.08

Crash-c(o)urse in life-as-usual

Vive sóbrio. Pensa saudável. Vai finalmente conhecer o inimigo. Dá-lhe um abraço, já agora. Sê o melhor amigo da mulher com quem sonhas passar o resto da vida. Sê a melhor amiga dela também. Contempla o primeiro cabelo branco com um sorriso nos lábios, o mesmo sorriso com que vês o resto da tua juventude a fugir e tu sem nunca teres tido ninguém com quem partilhá-la. Continua a acreditar em contos de fadas. Mesmo sabendo que isso não existe. Não para ti. Pensa que chegar aos 26 sem namorada é normal, como foi aos 20, e vai ser aos 30, 40, por aí fora. Ou não. Há por aí tanto camafeu a quem tu serves perfeitamente. Que é o que tu mereces. Achas que o problema é teu? Ela é que é estúpida. Mas tu és lindo. Inteligente. Encantador. Por isso mesmo é que nunca ninguém te pegou. Tenta um dia ir às putas. Vê como até elas dizem que de repente tiveram uma chamada divina e têm que ir a correr internar-se num convento no Bangladesh. Já agora, dá-lhes boleia para o aeroporto. Reprime a sede de sangue ao imaginares o feliz casalinho quando "estão juntos". Ela com o perfume que tu descobriste apenas e só para ela. Ele a lambuzar-se no perfume e em tudo o resto. Pede a Deus-Nosso-Senhor uma supermodelo da próxima vez. Já que não vais ter nada na mesma, ao menos estica-te a pedir. Deixa de gostar de música. E muda de emprego, também. Ou então torna-te fã de doom-metal, ou folclore do Burkina Faso. Volta a Nova Iorque. Ganhaste tanta coisa sempre que lá foste. Acolhe toda a merda que fizeste e o arrependimento subsequente como um velho amigo que te salvou a vida. És um amor. Mas nunca o terás. Relaxa. Tens uma vida óptima.

17.9.08

The Great Gig in the Sky

O Rick Wright já está a fazer soundcheck com o Syd. Explodiu-me mais um sonho nas mãos: ver a formação do Dark Side of the Moon ao vivo. Não do lado de cá.

16.9.08

It's up to me now

Chegar a NY, descarregar a mala e sair a correr para ver os Kooks na Apple Store do SoHo. Regresso a casa com mail da Ticketmaster na caixa a dizer que por um erro deles os meus bilhetes para ver Oasis tinham sido cancelados. Desespero. Com meia dúzia de ameaças ao longo de 48 horas, são-me devolvidos, cerca de cinco minutos antes do anúncio oficial do cancelamento do concerto. Se não estivesse tão habituado a ter que lidar com desilusões monstruosas, matava alguém. Prémio de consolação: dois concertos fabulosos do Paul Weller, o segundo numa sala pouco maior que o Alquimista, com a cereja no topo do mal menor Come On/Let's Go aos saltos com o Liam, a berrarmos a letra na tromba um do outro. Saída para uma festa de couchsurfing. Um gajo que diz que consegue definir todos os momentos da vida por canções dos Radiohead desaparece com uma miúda que fala de Bright Eyes e Death Cab for Cutie. No zodíaco musical estas duas espécies estão destinadas a one-night stands sem significado para a parte feminina da questão.. De repente são 6 da manhã e eu e o meu novo melhor amigo dessa noite, um francês que ia comprar uma Les Paul de 68, estamos a tocar Black Rebel Motorcycle Club e Libertines num pátio com mais 30 pessoas e os vizinhos ameaçam chamar a polícia. Boredom killer: subir pelas escadas de emergência dum prédio de 20 andares para ver o nascer do sol.

Ressaca de diversão: a sensação que se segue a uma noite anormalmente divertida. Caracteriza-se por um estado semi-depressivo alimentado por pensamentos do tipo "isto foi das noites mais memoráveis da minha vida. Durante meses (ANOS!) não me vou voltar a divertir assim! Que merda!"

Outras notas de destaque: um clube chamado Lit, um buraco de 2 andares com malta à la Lux, onde passa desde Radiohead a Bonnie Tyler, passando por Smiths (Stop Me If You Think You've Heard This One Before, the "soulmate" song), The Cure e Television. À saída passar na Apple Store para arranjar o iPhone às 5 da manhã. The city that never sleeps, eh? No dia seguinte alugar uma bicicleta e tentar voltar a andar, 9 anos depois, logo pela 5a Avenida e Broadway abaixo. Sem capacete. Sem amor à vida. Sem preocupações de destaque. Raro. Fantástico. Central Park South com o trânsito encalacrado, carros parados, pessoas a ocupar 2 faixas de rodagem, polícia, câmaras de televisão. A Céline Dion a sair dum hotel. Get a life y'all! À noite house-party dum amigo duma amiga que é o melhor amigo do ex dela. São todos bailarinos, um deles é igual ao gajo dos Scissor Sisters. A noite acaba com metade dos convidados a dançar o Lago dos Cisnes ao som de Sonic Youth e afins, a outra metade já com as mãos por dentro das calças uns dos outros, ex-namorado da minha amiga incluído. Hora de fugir. Para o outro lado do oceano, onde desta vez não perdi ninguém. Para variar. Também não tinha para perder, diga-se.

5.9.08

The subway is a porno and the pavements they are a mess

O regresso está próximo. Ao local do crime. De todos os crimes.

3.9.08

The painful art of settling for less

Hoje tive uma conversa. Uma história sobre uma espinha encravada em duas gargantas. Há quarenta anos. As mulheres têm a arte de matar de sofrimento os homens que só as querem fazer felizes, o que leva os homens a terem que se contentar com menos. Às vezes durante toda uma vida. E alimentar uma esperança semi-secreta de que nunca seja tarde demais. Cada um segue o seu caminho, ambos vivem e casam com quem não amam da mesma maneira, e têm filhos e se calhar projectam neles o amor que guardaram numa arrecadação mental sombria por não terem podido dá-lo a quem realmente deviam. Sim, as mulheres em questão também...talvez por uma questão de justiça kármica, de devolução da frustração induzida outrora. E a cada reencontro que a vida proporciona, chocalham os alicerces de gente já crescida, fazem-se jogos e testes à expugnabilidade das circunstâncias. O amor negado é provavelmente o animal de estimação de maior longevidade. Uma solidão que acompanha talvez eternamente. Procura-se reconforto em outros lugares. Talvez se encontre, mas entre o reconforto e o conforto vai a distância de um mal menor a uma perfeição.
Egoismo? Masoquismo? Irreversível?
Há dias disse por escrito o que sussurro a um microfone de telemóvel no segundo em que uma chamada termina. Tantas vezes que já perdi a conta. Fugi ao acabar de escrevê-lo. Enviei uma letra duma canção por mensagem. Tive como resposta "estava a ouvir isso". Grande Ordem Cósmica for beginners, aqui está um exemplo inequívoco.
Mas a perspectiva de quarenta anos, comparada com os meus nove meses aliviam o peso do fardo. Um aleijado sente-se melhor quando vê ou ouve falar de alguém mais aleijado ainda. Outro factor igualmente abominável da natureza humana. Ainda vou a tempo de viver alguma coisa, casar com alguém que não ame só pelo medo de nem sequer poder ficar para tio, aparentar uma certa felicidade, ser bom naquilo que faço e espremer toda a satisfação que isso me possa dar. Sorvê-la avidamente até que me faça esquecer um vazio. Até que me anestesie a dor de uma espinha encravada na garganta. Uma faca espetada no coração.