3.9.08

The painful art of settling for less

Hoje tive uma conversa. Uma história sobre uma espinha encravada em duas gargantas. Há quarenta anos. As mulheres têm a arte de matar de sofrimento os homens que só as querem fazer felizes, o que leva os homens a terem que se contentar com menos. Às vezes durante toda uma vida. E alimentar uma esperança semi-secreta de que nunca seja tarde demais. Cada um segue o seu caminho, ambos vivem e casam com quem não amam da mesma maneira, e têm filhos e se calhar projectam neles o amor que guardaram numa arrecadação mental sombria por não terem podido dá-lo a quem realmente deviam. Sim, as mulheres em questão também...talvez por uma questão de justiça kármica, de devolução da frustração induzida outrora. E a cada reencontro que a vida proporciona, chocalham os alicerces de gente já crescida, fazem-se jogos e testes à expugnabilidade das circunstâncias. O amor negado é provavelmente o animal de estimação de maior longevidade. Uma solidão que acompanha talvez eternamente. Procura-se reconforto em outros lugares. Talvez se encontre, mas entre o reconforto e o conforto vai a distância de um mal menor a uma perfeição.
Egoismo? Masoquismo? Irreversível?
Há dias disse por escrito o que sussurro a um microfone de telemóvel no segundo em que uma chamada termina. Tantas vezes que já perdi a conta. Fugi ao acabar de escrevê-lo. Enviei uma letra duma canção por mensagem. Tive como resposta "estava a ouvir isso". Grande Ordem Cósmica for beginners, aqui está um exemplo inequívoco.
Mas a perspectiva de quarenta anos, comparada com os meus nove meses aliviam o peso do fardo. Um aleijado sente-se melhor quando vê ou ouve falar de alguém mais aleijado ainda. Outro factor igualmente abominável da natureza humana. Ainda vou a tempo de viver alguma coisa, casar com alguém que não ame só pelo medo de nem sequer poder ficar para tio, aparentar uma certa felicidade, ser bom naquilo que faço e espremer toda a satisfação que isso me possa dar. Sorvê-la avidamente até que me faça esquecer um vazio. Até que me anestesie a dor de uma espinha encravada na garganta. Uma faca espetada no coração.

4 comentários:

Anónimo disse...

Dos textos mais bonitos que li nos ultimos tempos.

Anónimo disse...

E procurei o teu mail para te pedir licença em linkar o texto. Não encontrei. Vai na mesma. Vale a pena.

Anónimo disse...

Esses textos não têm efeito nenhum nas raparigas, muito pelo contrário. Ela vai ler isso e se auto-felicitar por saber que o cãozinho ainda está preso à trela dela.

Alex

Anónimo disse...

excelente imagem ó alex!

(quanto a mmmim penso que é isso que se espera de um amigo: que deite do seu pedestal abaixo o mártir choramingas.)