25.7.05

Comfortably numb

Sou feliz, sou afortunado, não passo fome, não passo sede, não sou diáriamente privado de liberdade, o meu corpo não se queixa, tenho a relação perfeita com a pessoa perfeita para as minhas imperfeições. Os meus espaços vazios são preenchidos com letras e sons, frases, pensamentos e conhecimentos que armazeno diariamente. Convivo à distância com génios e tento roubar abusivamente para mim um milímetro que seja da sua genielidade. Mas acima de tudo sou feliz porque carrego o peso da inevitabilidade de pensar. Sou feliz porque sofro com a mortalidade do mundo e das coisas. Sou feliz por ser por natureza um desesperado convicto. Sou feliz pelo meu pessimismo inquebrável. Sou feliz por não ter esperança em nada e apesar disso nunca deixar de lutar por tudo. Sou feliz porque no mundo hipócrita continuo a acreditar na justiça e tolerância acima de tudo. Sou feliz por não acredito em deus e assim não tenho uma desculpa esfarrapada para escapar às limitações temporais da espécie humana. Sou feliz porque a esta hora ainda não consegui pregar olho e nem sequer me apeteceu tentar. Sou feliz porque tenho a mais importante das certezas, a minha mente nunca se prostituirá. I´ve not become comfortably numb

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